Chegou a hora da manhã que ninguém queria: seu fim, era hora de se despedir do Jardineiro, mas antes o jardineiro quis mostrar-lhes sua criação de aranhas — as quais criavam soltas, não cometeria a insensatez de prendê-las.
Ele sempre dizia que criar aranhas é bem mais do que as proteger das lagartixas.
A grã de areia percebeu que realmente não havia nenhuma cerca para as aranhas, mas sim um grande telhado, ela não entendia qual é a vantagem dos telhados, e disse:
— Tudo bem que ele nos proteja das chuvas, mas em má compensação eles nos separam das estrelas todas as noites, prefiro mil vezes as estrelas.
Ela não se dava conta de que o seu telhado era o grande mar, que na verdade não é telhado, por isso que ela não entendia — e imagino que nem nós agora.
Além das flores, a criação de aranhas era sua segunda paixão, mas não tocava ao amanhecer para estas, elas não são boas ouvintes, nem apreciadoras de música, preferem mímicas, preferem visual, gostam de usar bem seusolhos, nisso são imbatíveis.
Prosseguiu dizendo…
Quando se cria aranhas você aprende a amá-las sem esperar algo em troca, elas não retribuem nenhum sentimento, mesmo que você passe a vida toda defendendo elas das lagartixas e dizendo vez após vez que as ama, se você se aproximar demais elas te ferem, mas isso também tem seu encanto.
Depois que terminou seu raciocínio o jardineiro disse:
— Espero que vocês tenham gostado da música e do passeio que fizemos através da manhã.
O Grão de areia percebeu que o jardineiro disse que esperava alguma coisa deles, mas que havia dito antes que não esperava nenhuma retribuição das aranhas, o grão de areia havia achado que ele aplicava isso a toda a sua vida. Mas o Jardineiro respondeu:
— Vocês não são aranhas, são? Não que aja algum interesse meu, mas vocês são capazes de retribuir sentimentos, não tiro nenhuma lição da minha relação com as aranhas, tiro lições — e muitas — da minha relação com as flores, por que eu as amo e esse amor é mútuo, assim sempre esperamos algo um do outro.
Assim terminaram seu passeio através da manhã que já começava a se transformar em tarde.
Marciel Pereira